quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Who will be the on to release me? Part II


Em passos apressados, na velocidade que os saltos lhe permitiam, ela andava pela ruas de pedra de Paris. Na ponta dos dedos, um cigarro; na cabeça, vinho demais. O som da cidade às 5:30 da manhã era de um prazer imenso pra qualquer um que ali habitava. Ela percorre caminhos feitos em sua mente, já sabendo qual seria seu objetivo final. Os cabelos longos, meio bagunçados, a maquiagem já borrada, o fim de festa. 

Em passos calmos, com um violão em mãos, desce as escadas de um prédio velho, um moço de barba rala, acendendo um cigarro. Ao sair na rua, percebe sua bota desamarrada. Ele percorre caminhos feitos em sua mente, enquanto escuta passos apressados pelo som quieto da cidade às 5:30. A visão cansada, meio borrada, o inicio do dia.

Por razões desconhecidas, aquilo haveria de ocorrer. "Não faz assim amor, que a gente tem todo o tempo do mundo, em Paris os dias não passam, eu vivo aqui a te procurar, com um vinho na mão e um francês meia-boca.. Não faz assim, bonito, que a gente pode se amar sem hora pra acabar, porque em Paris, os dias não passam."

Em um 'caffè' parisiense, os dois se esbarraram.. Ela foi curar a ressaca, ele tocava um piano, meio bossa-nova, meio perdido. Os olhos frios encontraram os olhos sozinhos. "Faz assim amor, me deixa vagar, que não tenho mais histórias pra contar, por onde andei e o que eu vi, você não quis saber, só quis fugir.. Faz assim amor, não vem me procurar, que eu não tenho tempo pro vulgar, o que eu vi por onde passei, não faz mais sentido, já não te tenho comigo."

Caiu a noite tão depressa, e ela ali parada, esperando a música parar. Ele saiu desnorteado, afim de evitar o que quer que seja que estivesse por vir. Ela o segura pela mão e diz: Não faz assim amor, que a gente tem todo o tempo do mundo, em Paris os dias não passam, eu vivo aqui a te procurar, com um vinho na mão e um francês meia-boca.. Não faz assim, bonito, que a gente pode se amar sem hora pra acabar, porque em Paris, os dias não passam.

Era tudo que ele (não) queria ouvir.

Agora, em meio ao som de buzinas, e da chuva que lavava as calçadas, os dois conversavam baixinho, sobre qualquer assunto incerto, sobre qualquer louco esperto, sobre o fim do mundo. Dedos entrelaçados, mãos dadas, cheiro de café e cigarros. Horas depois, sob a mão, papel e lápis; uma carta de amor? Uma carta suicida? Uma composição? Um poema? Um bilhete? Uma nota? Um desenho? Uma linha? Um ponto? Uma história? 

Um adeus. De um doido-velho iludido, pra sua amada louca, sobre um amor bandido. 

"Morena, to indo embora de Paris.. Não consigo mais ficar, saber que tu me ama me faz feliz, porém, tua loucura me excita, e assim vou perdendo a cabeça. E a cabeça não posso perder, pois preciso dela pra te lançar pensamentos furtivos, preciso dela pra lembrar do teu olhar perdido. Me desculpa se te fiz um dia sofrer. Tu és pura gasolina e querosene em combustão, e todo esse teu fogo, eu já não posso mais apagar.. Assim vou vivendo meus dias, na solidão dos meus devaneios, na mesmice das minhas horas. O paraíso é bem distante, mas levanta tua cabeça e olha bem adiante, porque passe o tempo que for, não haverá método pra pretender que eu fui apenas só mais um 'seu amante'. É, morena, tá tudo bem.."

af to cv. Paris, 1949.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mar de ilusões.


Me perco em meio as ondas, me perco em meio ao sal nos olhos e o sol forte. Me perco entre as ondas da minha cabeça. Do meu próprio mar de ilusões.
"Minha cabeça é meio louca, ela não funciona nem no 110v e nem no 220v, é 330v com nobreak" Assim disse um maluco consciente. 

Eu prometi a mim mesmo, que não iria agir mais como um "Mr. Confusion" porém, vejo que é realmente impossível, isso tá dentro de mim, corre em minhas veias. Mas isso não significa que sou assim o tempo todo. Eu sou um surfista solitário, ando só, por mares desconhecidos, afim de encontrar piratas ou sereias, navios naufragados ou castelos de areia.

Por entre os dedos, cabelos ruivos que se curvam à uma saudação de boa noite. Seria verdade mesmo, ou apenas outra ilusão louca, pré-programada pelo meu cérebro maluco? Não sei mais.. Vivo confundindo sonho com realidade.. Vivo confundindo fumaça de cigarro com velocidade, goles de vinho com sobriedade. Eu sou assim, um mar sem fim. Talvez o teu vestido de cetim. Sou homem ao mar.

Por entre os odores, bons perfumes, misturados com Lucky Strike de menta, piadas soltas no ar, dúvidas se existem extra-terrestres a embarcar. Vontades espontâneas, vergonha de falar.. "Eu não sei lidar." "Afonso, não custa nada tentar." Mergulharei ou não? O oceano é fundo, e se me afogar? Grito pra tu vir me salvar? 

Noite adentro, assuntos vão surgindo, vozes conhecidas elaborando milhões de palavras, lugares extintos, drogas usadas, tatuagens, amizades, idéias que, por elaboração minha e dos loucos que surfam ao meu lado, seria perfeita simetria.

O mundo não é mais o meu. E o meu nome não está mais ao lado do teu. Eu ando pelas ruas, pensando numa maneira de dizer, mas a eloquência me falha em momentos decisivos, a eloquência me falha em situações importantes. A eloquência me falha ao nervosismo. O nervosismo me domina em situações definitivas. Logo eu, que vivi na minha profissão coisas inimagináveis.. Coisas que duvidam e alguns até julgam que deveríamos ter corações de aço, por controlar situações emocionais fora de série. 


Conclusões não me vem, já desviei do foco, desviei do mar de ilusões, e dos meus devaneios mais loucos. Desviei dos olhos lindos. Da cara de sono. Das unhas azuis. Da camiseta de filme. Eu sou assim, uma bagunça infinita, uma bagunça controlada, uma bagunça domada.


Enquanto tu? És fogo em movimento, és água do mar, és terra firme a ver navios, és o ar que eu quero respirar. Quinto elemento.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Leão do Norte.


Sou coração do folclore nordestino, eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá.. 
Sou um boneco de Mestre Vitalino dançando uma ciranda em Itamaracá.
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho num frevo de Capiba ao som da orquestra armorial..
Sou Capibaribe num livro de João Cabral.
Sou mamulengo de São Bento do Una, vindo no baque solto de um Maracatu.
Eu sou um auto de Ariano Suassuna no meio da Feira de Caruaru.
Sou Frei Caneca no Pastoril do Faceta levando a flor da lira pra Nova Jerusalém..
Sou Luis Gonzaga, eu sou do mangue também.
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte.
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte.
Sou Macambira de Joaquim Cardoso, banda de pife no meio do canavial,
na noite dos tambores silenciosos, sou a calunga revelando o Carnaval.
Sou a folia que desce lá de Olinda, o homem da meia-noite, eu sou puxão desse cordão.
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão.
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte.
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte.
Mameluco, de Casa Forte.
De Pernambuco, Leão do Norte.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Midríase.

- Põe, põe mais um na mesa de jantar, que hoje eu vou prai te ver e tira o som dessa T.V, pra gente conversar!

"Eu te vejo dançando na calçada todo fim de semana, te vejo pulando descalça."

Com as mãos atadas, ele não tinha mais nada o que fazer, aceitar o destino era o seu destino.
Nada que ele pudesse fazer ou falar, poderia mudar a situação em que se meteu. Se meteu em vários becos, metade deles sem saída, roubou ferraris, matou bandidos, fumou ópio alegando que era "medicinal" e ainda por cima tinha que ouvir a mãe chamar de marginal.


Enquanto o sangue frio corria em suas veias, ela deitada de pernas pra cima no sofá da sala com Dark Side of The Moon no volume máximo. A fumaça do cigarro dele era branca e densa, era erva boliviana. Os braços se enroscavam feito duas cobras em copula intensa. O amplificador da guitarra ainda ligado, a tatuagem recém feita no peito sangrava pouco, o cheiro dos cabelos dela "bem cheirados" pelo olfato canino. Era como se Bob tivesse encontrado Joan.

"E nessa dança de passos descompassados, quem vai dizer que eu não sei rodar? Quem vai dizer que no tango eu não posso sambar?"

Um vício casual, um fio de metal, tudo aquilo que se pode ver. 

- É, morena, tá tudo bem.. Sereno é quem tem, a paz de estar em par com Deus.

- É, moreno, tá tudo bem.. Saudade é pra quem tem, vontade.. É.

- Então, se puder, vem, que eu to na rede do quintal.. Esperando por ti, meu bem.

- Tô no metrô, esquenta a água do café, que quando eu chegar.. tem.

E no final, restaram-se confetes velhos de carnaval, fotos de um muito bonito casal e saudades gastas daquele Landau. E o final? 
A Midríase nos olhos dela foi o que me fez ficar. Ou talvez tenha sido o perfume no ar. 

sábado, 17 de março de 2012

Toda forma de poder.


Poses descompensadas e fotos frente ao espelho. É tudo que consigo ver nessa noite inóspita. Quem terá coragem de me dizer que estou errado? Da minha vida faço eu o que decidir, a noção de certo e errado já se confunde em meio ao mundo em que vivemos. E o que me acalma? O que me dará forças pra encarar tudo?
Dizem que por mais cauteloso e cuidado que um espelho seja feito, ele jamais trará a real imagem de como realmente é. Então me pergunto, o quão hostil posso ser? Já que minha imagem real nunca será passada a mim mesmo, me julgo num ato infantil, como se o espelho pudesse mostrar a realidade.
Sonhos e devaneios, tudo que um dia a humanidade esperou poder encontrar, já se foi.. Sumiu pra sempre e dificilmente voltará. O mundo é cruel, e com o passar do tempo, as pessoas que nele vivem, se tornam mais frias e indiferentes. E eu? O que tenho a ver com isso? Escrevo frases, lanço poesias desconexas, faço músicas sem sentido algum, sobre coisas que jamais acontecerão.. Sou mais um perdido, frente as mazelas da humanidade. E os tolos, vivem na esperança de que um dia, poderemos comprar amor e felicidade das gôndolas dos super-mercados. Triste fim, pra todos eles e pra mim.
Acidentes perigosos, coma e UTI. Nos hospitais lotados, esperança é uma virtude dos fortes. Força. Até a própria palavra é forte. Coisas que ninguém jamais conseguirá explicar. Como por exemplo: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Existe vida após a morte?
Ataques terroristas, vidas sociais, revistas semanais e deputados federais.
Existem mais de um bilhão de perguntas que podem ser feitas a mim, um bilhão de respostas, um bilhão de pensamentos. A vida é grande demais, os anos, meses e dias são coisas que enquanto passam, parecem insignificantes, mas se analisadas a posteriori, perceberemos que nem tudo é tão ralo assim. Que existem razões, existem caminhos, existem voltas, existem meios, existem vontades, existe tempo, existem pessoas, existem corações, existem sentimentos, existe tudo que possamos querer. E queremos.
Realidade virtual, tango num campo minado e beijos pra torcida. Quem um dia irá contra a vontade? Remar contra a maré, subir uma montanha de costas, correr com as mãos, correr contra o tempo, fazer o tempo voltar, voltar aonde nunca foi, foi e se perdeu, perdeu e se deu por perdido. Vencido. Nada é o que parece, existem sempre dois lados da mesma moeda. Existe sempre uma linha paralela, existe sempre o outro lado da porta.

Mega, ultra, hiper, micro, baixas calorias, quilowatts, gigabytes.. Traço de audiência, tração nas quatro rodas e eu.. O que faço com esse números? Eu?