quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Vida serena.


Vida serena, com gosto de pele morena, correndo entre os ventos da estrada, com absoluto, medo de nada.

As vezes eu sonho que estou correndo por uma estrada vazia, como se eu fosse um carro em alta velocidade e o caminho a ser percorrido pela frente, fosse uma vida inteira a ser enfrentada. Porém, não há ninguém correndo comigo, ou em qualquer outra direção. Seria então uma corrida para o desconhecido? Uma tentativa de mostrar pra mim mesmo, que o vazio é o que me aguarda, ou que o vazio é o que vivo agora? 

Entre tentativas e tentativas, tento prever (sem sucesso) o futuro. Mas afinal, como conseguiria prever o futuro, se o presente muda constantemente conforme meus gostos, meus sonhos momentâneos, meus sonhos duradouros, minhas vontades absolutas, minhas vontades absurdas. E por pensar nesse lado, acho então que a corrida pode ser uma forma de tentar encontrar a mim mesmo no final da estrada, sem tentar acho um tanto de nada.

Quando eu penso nas coisas que vivi, vejo que, pela lógica, tenho mais futuro que passado. E o que uma pessoa com pouco passado pode saber realmente o que lhe guarda a vida? Ou o destino, se é que esse tal existe mesmo. O mundo foi feito pra nos iludir? Pra criarmos expectativas de certas coisas que saberemos que jamais se tornarão realidade? 
Com o passar do tempo, pude perceber (e disso eu levo uma quantidade um tanto boa de "certezas") que aquele ditado que dizem "nunca diga nunca" não se faz necessário, pelo menos não no mundo real. 
Existem sim, algumas coisas que nunca vão acontecer. Com alguns passos que dei, aprendi que o que separa o impossível do possível, é o sonho. Os sonhos são uma criação das nossas mentes febris que ajustam o irreal dentro de uma perspectiva do que gostaríamos que acontecesse, seja hoje, amanhã ou daqui a 50 anos, quando você vai estar com seus filhos e netos, numa mesa redonda num domingo a tarde, contanto estórias da sua infância e dos textos que você escrevia quando começou a descobrir que o mundo é muito maior do que ele parece ser.

E então você percebe que, independentemente do que você encontrará na estrada, o importante é a caminhada, é a corrida, e tudo que contem neles, as pessoas, as coisas, os cheiros, os sabores, as cores e os amores. 

E se sentir confortável percorrendo esse caminho, é o que faz da vida, serena.










Ou não é? 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Arabella e a lua.


Arabella ponhava todas as noites seu vestido branco de cetim, e dançava no silêncio a luz da lua. 


Eu conheci Arabella correndo numa rua escura numa noite chuvosa, de madrugada, com uma garrafa de vinho vazia às mãos. Ela corria, mas não por medo de algo, ou pra chegar em algum lugar, ela corria pra celebrar a liberdade, pra sentir o vento bater no rosto, a chuva molhar os cabelos e a lua iluminar todo seu corpo. Arabella era uma princesa da noite, uma dama da escuridão, era toda a beleza que o lúgubre podia proporcionar.

Ah.. Arabella, teus passos descompassados formam um dos mais belos bailar nos meus sonhos. Tuas mãos flutuam ao ar, e teus pés parecem levitar. Teu corpo, horas uma máquina, horas uma escultura, que meus olhos fitam até o arder. Os fios de cabelos morenos que caem sobre teus ombros e braços, me hipnotizam ao balanço do vento, como pode, Deus? É tanta mistura de coisa, um lá com um cá, um ré com um fá, um peito sem dó, um eu tão só.
Cabeça foi feita pra pensar e não só separar as orelhas, mas de tanto pensar no caminho certo, me perdi no meio da estrada, não sei a quantas ando, ou se ando sem direção. Não sei se ando solto, se ando preso, ou se ando sonhando demais, mas o que é demais pra um simples e jovem rapaz? Arabella, poderíamos eu e você, protagonizar a bela e a fera. Ou a fera e a bela, mas não somos atores, não estamos à toa.
Em dias de sol, eu ando assobiando pela rua, em dias de sol, tu andas nua. Em dias de chuva, eu ando meio que com medo, nem faço a curva, em dias de chuva, tu andas meio que sem medo, luta sem luva. Ao som do meu violão, saem notas perdidas, palavras não ditas, erros com precisão. O que é que eu tenho que fazer pra entrar por debaixo dos teus cabelos? Descer pelas tuas costas e me enrolar no teu corpo inteiro até que minha boca alcance a ponta dos teus dedos.

Arabella, se eu pudesse pararia a rotação da terra no pôr-do-sol, e moraria na beira praia contigo pra sempre, só pra ver teus cabelos virarem bronze à luz laranja. 
Quem foi que falou que isso não tá certo? Quem foi que falou que precisa estar certo? Quem foi que definiu o que é o certo? Você sabe que eu sempre fui meio errado. E meio errado também é meio certo, ou não é?
Depois de tantos devaneios me faltam algumas palavras pra poder descrever o que é te ver enrolada nos meus lençóis, com essa calcinha azul indigo, esses anéis nos dedos com esse esmalte preto descascando, Arabella, você tomou minha mente e alma.
Portanto, no caso de eu estar enganado, eu só quero ouvir você dizer: "you got, baby, are you mine?"

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Maresia.



Era meio-dia em ponto, sentado à mesa do almoço, eu tomava meu café da manhã, numa xícara velha e meio suja. Alguém abrira a janela, fazendo assim o sol entrar na minha sala e me trazer um calor que era aparentemente dispensável. Eu queria sentir algo novo naquele dia, algo desconhecido, mas era uma segunda-feira comum, entediante e monótona.

Eu quero menos preocupações, mais tempo livre. Quero deixar a barba crescer, morar à beira da praia, com uma mulher de vestido florido e cachorros correndo. Com o passar do tempo, eu vou entendendo que a vida tem certas peculiaridades, um gosto diferente de tudo que se pode provar.
Eu gosto de olhar pro chão, eu gosto de olhar pro céu, eu gosto de ver o tempo passar, eu gosto de o tempo, gastar.

Em outros dias, em tempos atrás, eu me vi tão perdido num mundo que você criou. Agora eu já não sei mais, se tanto faz, ser culpado ou ser capaz. Eu sabia, como quem tem a certeza de que o céu iria escurecer a noite, que eu não teria noticias suas, que eu não ouviria sua voz por um bom tempo, que eu não sentiria as batidas do teu coração tão cedo. Mas, ora.. quem inventou esse negocio de distancia? Se eu pular no mar daqui, eu vou bater no mar dai, cheirando a mesma maresia. Só me falta folego e energia pra chegar. E louco sou, porque iria mesmo se não soubesse nadar.

Estranho esse negocio de sentir saudades do que nunca foi seu. Estranho sentir esse negocio por alguém que nunca se viveu. Estranho é sentir aqui, esse cheiro teu. Será que sentes fome, será que sentes frio? Eu me pergunto tantas coisas com a inocência de uma criança que ás vezes não sabe o que fala. Mas é que, isso que eu sinto não é normal, aliás, o que é normal? O que que vai contra as leis da natureza, se muitas delas, eu nem sei quais são. Ultimamente ao ouvir teu nome tudo que sinto é aperto no coração. Será que já tá perto de você voltar? será que, de mim, você (ainda) vai gostar?

"Eu só queria, tomar um vento na cara, me deu saudades da Bahia..
Eu só queria, passar um tempo lá em casa.. Me deu saudades da Bahia."

Vou sentar na rede e te compor um som, mandar uma k7 desse meu velho gravador num envelope azul, quem sabe eu não receba de volta um postal? Queria que você me ouvisse tocar, não sou nenhum Caetano ou Jobim, mas tenho algumas coisas pra te dedicar.. Do alto de uma montanha, ou do fundo desse mar, da cor de coisa mais branca que a tua pele, do calor de coisa mais quente que teu coração, nem acordes, nem fitas, nem arranjo, nem tons..

Eu quero um abraçaço, eu quero é te ouvir dizer que vai ficar, eu quero mãos, braços, cheiros, beijos e amassos. Pernas de baixo do cobertor, roupas no chão, sorrisos de nariz com nariz, eu quero mostrar ao mundo o quanto eu sou feliz. Quero lamber esse sal de maresia na tua pele, quero rolar nas areias da praia do japão, quero me embriagar com teu cheiro, quero me desligar do mundo e amancebar teu corpo no meu.
Quero dançar numa gira te olhando sem parar, quero me deitar ao teu lado e só tua respiração ao meu ouvido escutar, eu quero pele na pele, boca na boca, toque no toque, eu quero tudo! Muito do que eu não posso ter. 

Eu só quero é achar um jeito de te dizer, que eu quero você. Sem medo de morrer na praia depois de beber o mar, mas medo.. Que dá medo do medo que dá.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

De Bordalo ao Chiado.


(Aldeota, Fortaleza-CE, Brasil) 
O relógio ao lado da minha cama, marcava 00:34, pela minha janela eu olhava fixamente para um pé de Carolina do outro lado da rua, enquanto suas folhas balançavam suavemente pela briza fria da madrugada. Na minha mente um preto-velho sentado numa praia fumava um cachimbo. Cerrei os olhos e dormi. 

(Bordalo, Coimbra-Co, Portugal)
Ao acordar, ainda sem abrir os olhos, percebo algo muito diferente, a cama em que dormia era um pouco mais dura, e os lençóis aos quais estava enrolado eram mais grossos e mais quentes. Quando abri os olhos, o espanto e o pânico. Me deparei com um quarto totalmente estranho, de uma casa igualmente estranha, e pela janela, uma paisagem bem diferente do que haviam processado meu olhos. Havia um verde, sim, mas era mais robusto e cheio, não apenas uma árvore com sementes vermelhas despencando.. Era um arvoredo vasto, com um riacho à direita e a beira da estrada mais abaixo da janela. Após alguns minutos revirando tudo de cima à baixo no quarto, encontro uma mochila, com alguns de meus pertences pessoais e um envelope no qual se encontrava dentro, duas passagens de trem para Lisboa, e uma passagem de avião em meu nome para o Brasil. Quando encontrei tais documentos me vi totalmente perdido e me dei conta de que eu estava muuuito longe de casa! Como havia chegado ali? Não se sabe! O que estava fazendo ali? Muito menos! O que iria fazer dali em diante? Aventuras me aguardavam. 

Alguns minutos depois, já com a ideia em processamento, a porta do "meu quarto" se abre, e adentra uma mulher de mais ou menos um metro e setenta de altura, de olhos castanhos e serenos, que me olhavam com um ar de riso, cabelos alourados, porém mais claros que pareciam ser por conta da luz do sol que penetrava pela janela e batia em seu rosto. Ao me levantar da cama, ela estendeu uma mão pra mim e ao segurar, ela me disse calmamente, como quem tem açúcar no coração: "Não se desespere, não me pergunte nada por hora, apenas escute!" E então ela, sem me dizer quaisquer informações sobre quem era ela, e como eu fui parar ali, me explicou um simples itinerário que ela faria comigo no presente dia. Depois de uma xícara de café, um croissant e agasalhos postos, fomos a rua, por volta das 9 da manhã, horário de Portugal. Ao andarmos pela vizinhança simpática do bairro do Bordalo, a mulher foi me perguntando coisas sobre religião e filosofia. Enquanto discutíamos sobre, ela me interrompia e me dava aulas de tais assuntos, de certas formas jamais explicadas a mim. Ela era dotada de um conhecimento ímpar sobre isso, e eu, boquiaberto, depois de alguns minutos fiquei só a escutar atentamente tudo que ela tinha a me dizer. 

Era uma mulher fascinante, aos poucos, fui tentando falar de assuntos pessoais, mas ela, percebendo minhas tentativas de aproximação, foi me cortando logo, e relembrando mais uma vez que eu estava ali para ouvi-la falar. E assim foi, durante um período de tempo conversamos sobre muita coisa, andando pelo Bordalo, e durante essa caminhada, perdi a noção do tal do tempo e quando demos por si, era hora do almoço, fizemos uma refeição rápida em um restaurante típico Português, a qual a comida era sensacional. E então, a moça me perguntou se tinham mandado as passagens, eu prontamente me lembrei do envelope em minha bolsa e as entreguei pra ela, quando ela disse: "Devemos ir andando, nosso trem saí em alguns minutos e eu tenho muita coisa pra te mostrar e falar no caminho." Fomos andando em passos largos até a estação de trem de Coimbra, e de lá, entramos num expresso para Lisboa, que durou pouco mais de 2 horas. Durante todo caminho a misteriosa moça, que agora mais parecia uma familiar minha, embora eu não pudesse aceitar esse fato, pois estava quase convencido de que eu estava era apaixonado por ela, foi me contando histórias sobre Deuses e religião, e então começou a conversar comigo para saber o que eu achava de tais assuntos.

No desenrolar da conversa, nós havíamos chegado à Lisboa e ela durante o percurso deixou escapar que era brasileira, assim como eu, e por conta disso, meio que percebi que ela se sentiu obrigada a me contar tais experiencias sobre sua vida pessoal, porém, sem nunca mencionar seu nome ou coisa parecida. E após chegarmos em Lisboa, ela me convidou a sair da estação e andar pela cidade, e então fomos parar no bairro do Chiado, onde passamos o resto da tarde inteira conversando mais ainda. Só que dessa vez, quem falou mais fui eu, e simplesmente desabafei.. Contei tudo da minha vida pra ela, como se tivesse escrito uma auto-biografia completa para a tal mulher, e ela ouviu a tudo atentamente sem desviar os olhos de mim 1 segundo sequer. E então, durante esse relato de "quem sou eu" contei que passava por diversos problemas e que minha vida, apesar de boa e farta, não era exatamente uma vida feliz. A melancolia em meus lábios ao expressar tais palavras fez com que a moça deixasse escorrer uma lágrima pelo seu olho esquerdo, da qual eu ajudei a enxugar. E quando à perguntei porque chorava ela disse "Agora eu entendi o real significado de eu estar aqui hoje com você." E uma voz no fundo da minha cabeça não me permitiu que lhe pedisse explicações maiores sobre isso, eu simplesmente ACEITEI. 

O bairro do Chiado era extremamente encantador, eu cheguei a falar pra moça, que depois que todo esse vendaval em minha vida passasse, eu iria voltar pra lá, me casaria com ela e moraríamos naquela vizinhança tão aconchegante. E num riso solto ela me disse: "Quando o começo for verdadeiro, estaremos numa vizinhança tão boa quanto, porém, longe daqui, num lugar onde nossas raízes nos segurarão.. No Brasil, que é o nosso lugar, pequeno."
Dito isso, eu passei, não sei 20 minutos ou 20 horas, pensando em tuuuuudo que havia acontecido neste dia, desde o momento em que acordei, até aquele que meu relógio marcava 6:34 na calçada onde uma placa na parede dizia Rua da Madalena. Pensei então, meu Deus, isso deve ser um sonho. (Ué, mas eu não era ateu? Será que aquele papo de religião e filosofia o dia todo tinham surtido efeito?) Pensamentos tolos esses meus, aliás, tão tolo, esse eu. A moça num estalar de dedos me fez "acordar" e então me alertou parar esticarmos as pernas, já cansadas, pois o avião sairia em algumas horas, e a viagem longa me serviria de um tempo extremamente grande para pensar em tudo aquilo. 

Caminhamos então até o aeroporto, em um silêncio necessário, pois muitas palavras haviam sido ditas, e poucos sinais lidos. Nas ruas desertas e quase crepusculares de Lisboa, podia-se ouvir as nossas respirações porque o frio era intenso, e nossos narizes vermelhos mostravam claramente a sensibilidade por conta de rinites ou qualquer outros 'ites' presentes no corpo. Ao chegarmos no aeroporto, algumas palavras mais, sobre assuntos banais e então a doce moça, vendo que se aproximava do meu horário, se despediu calorosamente de mim e falou que precisava voltar depressa pra Coimbra, pra Bordalo, pois no dia seguinte a vida continuava, em seguida me disse para pensar em tudo que havíamos conversado e em tudo que eu tinha vivido naquele fatídico dia. Com um beijo no rosto e um papel dobrado colocado em bolso, ela se virou e foi embora. Ao vê-la de costas, uma voz rouca, calma, pausada e simples disse em meu ouvido: "Meu menino, tudo está só começando pra você, tenha fé, porque existe alguém aqui olhando por ti, em todos os momentos, acredite, e busque, porque na busca, será guiado para o que melhor lhe convém, e então, feliz você será zi fio. Feliz como merecemos todos ser." 

Um arrepio percorreu minha nuca e se dissipou pra todos os lugares do meu corpo, eu senti um calor no meu peito, e uma vibração muito boa à minha volta. Embarquei no voo e pouco tempo depois caí no sono, por exaustão. Ao acordar, estava sentado no chão do meu quarto em Fortaleza, sem saber mais uma vez como havia chegado ali. O relógio marcava meio-dia em ponto. O telefone tocou, era minha mãe, me chamando pra ir a um lugar onde hoje tenho muitas mães. Aceitei ir por intuição e de lá, hoje, não saio mais. A bonita moça? Daqui a alguns meses me disse, sempre por telepatia, que voltaria de lá pra me ver, a sua espera estou, porque agora eu entendi, que o meu lugar é aqui, e que ela vem, e que Ele veio. Poucas coisas eu questiono mais, hoje eu vivo em paz. Felicidade eu tenho em demasia, alegria de algumas pessoas a minha volta contagia, e a amargura se foi. Porque eu simplesmente, aceitei.

"Moça, olha só, o que eu te escrevi.. É preciso força, pra sonhar e perceber que a estrada vai, além do que se vê."

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sombra no sol.

Era uma vez, um louco.

Louco para aliviar teu fardo e te deixar aonde estava.
Você acreditou que eu poderia, você parecia ter visto isso antes.
Eu poderia ler teus pensamentos, te dizer o que viu e nunca dizer uma palavra sequer. Mas agora tudo isso morreu, já superado e acabado, nunca vai voltar.

Posso lhe dizer porque as pessoas morrem solitárias, posso lhe dizer que sou uma sombra no sol.
Encarando a derrota, procurando por uma razão, e nunca tendo certeza.
Nada além de um buraco, pra viver sem alma e nada ser aprendido.

Posso lhe dizer porque as pessoas vão a loucura, posso lhe ensinar como fazer o mesmo. Posso lhe dizer porque o fim nunca chegará.
Posso lhe dizer que sou uma sombra no sol.

Formas de todos os tamanhos movem-se através dos meus olhos.
Portas dentro da minha cabeça, parafusadas por dentro.
Cada gota dessa chama incendeia uma vela e incinera memórias de alguém que viveu dentro da minha pele.

Esse alguém agora está preso, por coisas que ele não fez.
Inocência presa numa bola de ferro e uma corrente, ele nunca vai sentir o calor do sol nem o cheiro das rosas, mas quando ele olhou pra mim e sorriu, eu pude entender.

Se você estiver livre, nunca verá os muros;
Se sua cabeça estiver limpa, você nunca cairá;
Se você estiver certo, nunca temerá o erro e se sua cabeça estiver erguida;
Você nunca temerá nada.

Havia um homem que tinha um rosto muito parecido comigo, eu o vi no espelho e lutei com ele na rua, quando ele se virou, atirei em sua cabeça e só assim, percebi que havia me matado.

Posso lhe dizer tudo que você quiser saber, posso lhe ensinar como fazer o mesmo, posso lhe mostrar o caminho das pedras, posso lhe ensinar a andar nos céus.. ou posso simplesmente, lhe mostrar como explodir feito gasolina.

Posso te mostrar como esconder sua sombra no sol.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Who will be the on to release me? Part II


Em passos apressados, na velocidade que os saltos lhe permitiam, ela andava pela ruas de pedra de Paris. Na ponta dos dedos, um cigarro; na cabeça, vinho demais. O som da cidade às 5:30 da manhã era de um prazer imenso pra qualquer um que ali habitava. Ela percorre caminhos feitos em sua mente, já sabendo qual seria seu objetivo final. Os cabelos longos, meio bagunçados, a maquiagem já borrada, o fim de festa. 

Em passos calmos, com um violão em mãos, desce as escadas de um prédio velho, um moço de barba rala, acendendo um cigarro. Ao sair na rua, percebe sua bota desamarrada. Ele percorre caminhos feitos em sua mente, enquanto escuta passos apressados pelo som quieto da cidade às 5:30. A visão cansada, meio borrada, o inicio do dia.

Por razões desconhecidas, aquilo haveria de ocorrer. "Não faz assim amor, que a gente tem todo o tempo do mundo, em Paris os dias não passam, eu vivo aqui a te procurar, com um vinho na mão e um francês meia-boca.. Não faz assim, bonito, que a gente pode se amar sem hora pra acabar, porque em Paris, os dias não passam."

Em um 'caffè' parisiense, os dois se esbarraram.. Ela foi curar a ressaca, ele tocava um piano, meio bossa-nova, meio perdido. Os olhos frios encontraram os olhos sozinhos. "Faz assim amor, me deixa vagar, que não tenho mais histórias pra contar, por onde andei e o que eu vi, você não quis saber, só quis fugir.. Faz assim amor, não vem me procurar, que eu não tenho tempo pro vulgar, o que eu vi por onde passei, não faz mais sentido, já não te tenho comigo."

Caiu a noite tão depressa, e ela ali parada, esperando a música parar. Ele saiu desnorteado, afim de evitar o que quer que seja que estivesse por vir. Ela o segura pela mão e diz: Não faz assim amor, que a gente tem todo o tempo do mundo, em Paris os dias não passam, eu vivo aqui a te procurar, com um vinho na mão e um francês meia-boca.. Não faz assim, bonito, que a gente pode se amar sem hora pra acabar, porque em Paris, os dias não passam.

Era tudo que ele (não) queria ouvir.

Agora, em meio ao som de buzinas, e da chuva que lavava as calçadas, os dois conversavam baixinho, sobre qualquer assunto incerto, sobre qualquer louco esperto, sobre o fim do mundo. Dedos entrelaçados, mãos dadas, cheiro de café e cigarros. Horas depois, sob a mão, papel e lápis; uma carta de amor? Uma carta suicida? Uma composição? Um poema? Um bilhete? Uma nota? Um desenho? Uma linha? Um ponto? Uma história? 

Um adeus. De um doido-velho iludido, pra sua amada louca, sobre um amor bandido. 

"Morena, to indo embora de Paris.. Não consigo mais ficar, saber que tu me ama me faz feliz, porém, tua loucura me excita, e assim vou perdendo a cabeça. E a cabeça não posso perder, pois preciso dela pra te lançar pensamentos furtivos, preciso dela pra lembrar do teu olhar perdido. Me desculpa se te fiz um dia sofrer. Tu és pura gasolina e querosene em combustão, e todo esse teu fogo, eu já não posso mais apagar.. Assim vou vivendo meus dias, na solidão dos meus devaneios, na mesmice das minhas horas. O paraíso é bem distante, mas levanta tua cabeça e olha bem adiante, porque passe o tempo que for, não haverá método pra pretender que eu fui apenas só mais um 'seu amante'. É, morena, tá tudo bem.."

af to cv. Paris, 1949.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Mar de ilusões.


Me perco em meio as ondas, me perco em meio ao sal nos olhos e o sol forte. Me perco entre as ondas da minha cabeça. Do meu próprio mar de ilusões.
"Minha cabeça é meio louca, ela não funciona nem no 110v e nem no 220v, é 330v com nobreak" Assim disse um maluco consciente. 

Eu prometi a mim mesmo, que não iria agir mais como um "Mr. Confusion" porém, vejo que é realmente impossível, isso tá dentro de mim, corre em minhas veias. Mas isso não significa que sou assim o tempo todo. Eu sou um surfista solitário, ando só, por mares desconhecidos, afim de encontrar piratas ou sereias, navios naufragados ou castelos de areia.

Por entre os dedos, cabelos ruivos que se curvam à uma saudação de boa noite. Seria verdade mesmo, ou apenas outra ilusão louca, pré-programada pelo meu cérebro maluco? Não sei mais.. Vivo confundindo sonho com realidade.. Vivo confundindo fumaça de cigarro com velocidade, goles de vinho com sobriedade. Eu sou assim, um mar sem fim. Talvez o teu vestido de cetim. Sou homem ao mar.

Por entre os odores, bons perfumes, misturados com Lucky Strike de menta, piadas soltas no ar, dúvidas se existem extra-terrestres a embarcar. Vontades espontâneas, vergonha de falar.. "Eu não sei lidar." "Afonso, não custa nada tentar." Mergulharei ou não? O oceano é fundo, e se me afogar? Grito pra tu vir me salvar? 

Noite adentro, assuntos vão surgindo, vozes conhecidas elaborando milhões de palavras, lugares extintos, drogas usadas, tatuagens, amizades, idéias que, por elaboração minha e dos loucos que surfam ao meu lado, seria perfeita simetria.

O mundo não é mais o meu. E o meu nome não está mais ao lado do teu. Eu ando pelas ruas, pensando numa maneira de dizer, mas a eloquência me falha em momentos decisivos, a eloquência me falha em situações importantes. A eloquência me falha ao nervosismo. O nervosismo me domina em situações definitivas. Logo eu, que vivi na minha profissão coisas inimagináveis.. Coisas que duvidam e alguns até julgam que deveríamos ter corações de aço, por controlar situações emocionais fora de série. 


Conclusões não me vem, já desviei do foco, desviei do mar de ilusões, e dos meus devaneios mais loucos. Desviei dos olhos lindos. Da cara de sono. Das unhas azuis. Da camiseta de filme. Eu sou assim, uma bagunça infinita, uma bagunça controlada, uma bagunça domada.


Enquanto tu? És fogo em movimento, és água do mar, és terra firme a ver navios, és o ar que eu quero respirar. Quinto elemento.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Leão do Norte.


Sou coração do folclore nordestino, eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá.. 
Sou um boneco de Mestre Vitalino dançando uma ciranda em Itamaracá.
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho num frevo de Capiba ao som da orquestra armorial..
Sou Capibaribe num livro de João Cabral.
Sou mamulengo de São Bento do Una, vindo no baque solto de um Maracatu.
Eu sou um auto de Ariano Suassuna no meio da Feira de Caruaru.
Sou Frei Caneca no Pastoril do Faceta levando a flor da lira pra Nova Jerusalém..
Sou Luis Gonzaga, eu sou do mangue também.
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte.
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte.
Sou Macambira de Joaquim Cardoso, banda de pife no meio do canavial,
na noite dos tambores silenciosos, sou a calunga revelando o Carnaval.
Sou a folia que desce lá de Olinda, o homem da meia-noite, eu sou puxão desse cordão.
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão.
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte.
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte.
Mameluco, de Casa Forte.
De Pernambuco, Leão do Norte.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Midríase.

- Põe, põe mais um na mesa de jantar, que hoje eu vou prai te ver e tira o som dessa T.V, pra gente conversar!

"Eu te vejo dançando na calçada todo fim de semana, te vejo pulando descalça."

Com as mãos atadas, ele não tinha mais nada o que fazer, aceitar o destino era o seu destino.
Nada que ele pudesse fazer ou falar, poderia mudar a situação em que se meteu. Se meteu em vários becos, metade deles sem saída, roubou ferraris, matou bandidos, fumou ópio alegando que era "medicinal" e ainda por cima tinha que ouvir a mãe chamar de marginal.


Enquanto o sangue frio corria em suas veias, ela deitada de pernas pra cima no sofá da sala com Dark Side of The Moon no volume máximo. A fumaça do cigarro dele era branca e densa, era erva boliviana. Os braços se enroscavam feito duas cobras em copula intensa. O amplificador da guitarra ainda ligado, a tatuagem recém feita no peito sangrava pouco, o cheiro dos cabelos dela "bem cheirados" pelo olfato canino. Era como se Bob tivesse encontrado Joan.

"E nessa dança de passos descompassados, quem vai dizer que eu não sei rodar? Quem vai dizer que no tango eu não posso sambar?"

Um vício casual, um fio de metal, tudo aquilo que se pode ver. 

- É, morena, tá tudo bem.. Sereno é quem tem, a paz de estar em par com Deus.

- É, moreno, tá tudo bem.. Saudade é pra quem tem, vontade.. É.

- Então, se puder, vem, que eu to na rede do quintal.. Esperando por ti, meu bem.

- Tô no metrô, esquenta a água do café, que quando eu chegar.. tem.

E no final, restaram-se confetes velhos de carnaval, fotos de um muito bonito casal e saudades gastas daquele Landau. E o final? 
A Midríase nos olhos dela foi o que me fez ficar. Ou talvez tenha sido o perfume no ar. 

sábado, 17 de março de 2012

Toda forma de poder.


Poses descompensadas e fotos frente ao espelho. É tudo que consigo ver nessa noite inóspita. Quem terá coragem de me dizer que estou errado? Da minha vida faço eu o que decidir, a noção de certo e errado já se confunde em meio ao mundo em que vivemos. E o que me acalma? O que me dará forças pra encarar tudo?
Dizem que por mais cauteloso e cuidado que um espelho seja feito, ele jamais trará a real imagem de como realmente é. Então me pergunto, o quão hostil posso ser? Já que minha imagem real nunca será passada a mim mesmo, me julgo num ato infantil, como se o espelho pudesse mostrar a realidade.
Sonhos e devaneios, tudo que um dia a humanidade esperou poder encontrar, já se foi.. Sumiu pra sempre e dificilmente voltará. O mundo é cruel, e com o passar do tempo, as pessoas que nele vivem, se tornam mais frias e indiferentes. E eu? O que tenho a ver com isso? Escrevo frases, lanço poesias desconexas, faço músicas sem sentido algum, sobre coisas que jamais acontecerão.. Sou mais um perdido, frente as mazelas da humanidade. E os tolos, vivem na esperança de que um dia, poderemos comprar amor e felicidade das gôndolas dos super-mercados. Triste fim, pra todos eles e pra mim.
Acidentes perigosos, coma e UTI. Nos hospitais lotados, esperança é uma virtude dos fortes. Força. Até a própria palavra é forte. Coisas que ninguém jamais conseguirá explicar. Como por exemplo: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Existe vida após a morte?
Ataques terroristas, vidas sociais, revistas semanais e deputados federais.
Existem mais de um bilhão de perguntas que podem ser feitas a mim, um bilhão de respostas, um bilhão de pensamentos. A vida é grande demais, os anos, meses e dias são coisas que enquanto passam, parecem insignificantes, mas se analisadas a posteriori, perceberemos que nem tudo é tão ralo assim. Que existem razões, existem caminhos, existem voltas, existem meios, existem vontades, existe tempo, existem pessoas, existem corações, existem sentimentos, existe tudo que possamos querer. E queremos.
Realidade virtual, tango num campo minado e beijos pra torcida. Quem um dia irá contra a vontade? Remar contra a maré, subir uma montanha de costas, correr com as mãos, correr contra o tempo, fazer o tempo voltar, voltar aonde nunca foi, foi e se perdeu, perdeu e se deu por perdido. Vencido. Nada é o que parece, existem sempre dois lados da mesma moeda. Existe sempre uma linha paralela, existe sempre o outro lado da porta.

Mega, ultra, hiper, micro, baixas calorias, quilowatts, gigabytes.. Traço de audiência, tração nas quatro rodas e eu.. O que faço com esse números? Eu?